Nesta semana, dada a relevância do tema, trazemos o artigo “A importância da educação em cirurgia”, de Antonio Marttos Jr, M.D (University of Miami, Leonard M. Miller School of Medicine), publicado na edição 64 do SOBRANEWS – Informativo Oficial da SOBRACIL, Sociedade Brasileira de Cirurgia Minimamente Invasiva e Robótica . Desejamos a todos uma boa leitura!
O processo de formação do cirurgião é extremamente complexo e importante, envolvendo não apenas a capacitação técnica, mas também o desenvolvimento do raciocínio e bom senso para tomar decisões clínicas, afirma Antonio Marttos, presidente da Panamerican Trauma Society. “Durante décadas, a formação dos cirurgiões foi baseada em aulas teóricas e na prática de técnicas cirúrgicas em ambientes laboratoriais monitoradas por mentores e professores”.
Atualmente novas técnicas de ensino e aprendizado têm sido desenvolvidas visando melhorar a captação de conhecimento, retenção de conceitos e, principalmente, o desenvolvimento do raciocínio clínico e de técnicas cirúrgicas de uma forma mais rápida e adequada.
A duração da formação do cirurgião geral foi prolongada. Hoje no Brasil a Residência Médica tem duração de 3 anos, enquanto nos Estados Unidos, já há muitas décadas, a formação do cirurgião geral tem duração de 5 anos.
A formação em 5 anos possibilita um treinamento sólido em diversas especialidades cirúrgicas, com intuito de formar um cirurgião altamente resolutivo, capaz de fazer cirurgias em diversas áreas, além de procedimentos como broncoscopia, endoscopia, colonoscopia, entre outros.
O treinamento visa também conhecimento de procedimentos anestésicos e terapia intensiva, com o objetivo de preparar o cirurgião para ter o controle total sobre o seu paciente, do pré ao pós-operatório dos casos mais complicados.
Somente após os cinco anos de Cirurgia Geral é que o cirurgião americano segue para a especialização (fellowship). Muitos deles se dedicam a 2 anos de pesquisa médica, entre o segundo e terceiro ano de Residência em Cirurgia Geral, com o objetivo de publicar artigos científicos e se tornarem mais competitivos no momento da seleção para o fellowship.
A sólida formação do Cirurgião Geral é de extrema importância, já que permite a ele compreender e tratar complicações ou casos complexos durante sua carreira.
Na Universidade Miami o Cirurgião Geral passa por um extenso processo de formação.
Desde o primeiro ano de Residência em Cirurgia Geral os residentes são expostos a treinamento em técnicas cirúrgicas, realizando cirurgias experimentais com modelos anatômicos sintéticos, computadores, cadáveres frescos e até modelos vivos. (Fotos 1, 2 e 3).



A simulação em computadores tem se mostrado muito eficaz, aumentando a segurança e confiança do jovem cirurgião, que tem a oportunidade de treinar os conhecimentos e técnicas que utilizará durante os procedimentos cirúrgicos. Além disso em todos os casos cirúrgicos o residente está sempre sob supervisão de um professor.
Anualmente, os residentes de Cirurgia Geral se submetem a testes para avaliar seu nível de conhecimento teórico, além de avaliações técnicas e práticas.
Essas avaliações visam não apenas verificar o conhecimento teórico e prático, mas também avaliar o senso crítico do residente na tomada de decisões, sua qualidade técnica, além da sua habilidade no relacionamento com outros profissionais de saúde e na relação médico-paciente.
Cada vez mais modelos como ATLS, ATON, DSTC, entre outros muito cursos, visam padronizar condutas e implementar protocolos para o tratamento de doenças cirúrgicas.
A pandemia por COVID nos mostrou que muitas reuniões científicas e discussões de casos podem ser feitas por videoconferência, aumentando amplamente a possibilidade de exposição dos residentes a diversas patologias e discussão de casos cirúrgicos. Novos modelos de simulação têm sido desenvolvidos, incluindo simulações por computador, para o atendimento a pacientes em salas de emergência (Foto 4).

O Brasil é um país onde cirurgiões têm alta capacidade técnica e exposição a um grande número de casos clínicos durante a sua formação. O auxílio ao desenvolvimento de suas capacidades, não só técnicas, mas também de conhecimentos gerais em temas como terapia intensiva, diagnóstico clínico e decisões críticas para o manejo dos pacientes, tende a ser aperfeiçoado com as novas técnicas de ensino que têm sido desenvolvidas.
Claramente a formação do cirurgião no Brasil está passando por um momento de mudanças e a tendência é que seja possível formar profissionais cada vez mais preparados.
O acesso a grandes mestres e professores por meio de videoconferência, além do desenvolvimento de novos cursos e tecnologias educacionais, irão definitivamente aumentar a possibilidade de discussões clínicas e maior aprendizado.

Antonio Marttos Jr, M.D.
Associate Professor of Surgery
Director of Global e-Health / Trauma Telemedicine, William Lehman Injury Research Center
Division of Trauma & Surgical Critical Care, Dewitt Daughtry Department of Surgery
University of Miami, Leonard M. Miller School of Medicine
Fonte: publicado na edição 64 do SOBRANEWS, Informativo Oficial da SOBRACIL – Sociedade Brasileira de Cirurgia Minimamente Invasiva e Robótica