Pesquisar

A importância da Comunicação Alternativa (CAA/CSA) nos atendimentos home care

profissional usando CAA em atendimento home care


Muitas pessoas precisam de cuidados em home care (quando problemas de saúde exigem internação hospitalar em casa), mas o serviço, apesar de já estar consolidado no Brasil, ainda precisa de muito aprimoramento, tanto das empresas que oferecem tal serviço, como dos próprios profissionais que atuam nessa área.

Vale lembrar que muitas pessoas confundem home care com atendimento domiciliar: no home care, o paciente tem o atendimento de uma equipe multidisciplinar que irá atendê-lo com os serviços do hospital em sua casa, como coleta de exames, gestão de medicamentos, curativos, banhos, entre outros, a depender do plano elaborado pelo médico, de acordo com a necessidade do paciente. O atendimento é definido ainda em períodos, que podem ser de 12 ou 24 horas e incluir serviços de fisioterapia, fonoaudiologia, terapia ocupacional, lazer, entre outros. Já no atendimento domiciliar, normalmente é apenas um profissional de determinada especialidade que atende o paciente, sem a estrutura de toda uma equipe.

“No home care, por contar com diversos profissionais, a comunicação entre todos é um ponto sensível, que precisa ser bastante trabalhado para que o tratamento do paciente tenha o acompanhamento adequado. O prontuário, por exemplo, precisa estar devidamente preenchido, mas o que normalmente acontece é que, seja pela correria da rotina durante o atendimento ou procedimento, os profissionais costumam não anotar detalhes que para um fonoaudiólogo ou terapeuta ocupacional, por exemplo, são importantes para mostrar a evolução comunicativa do paciente, principalmente no caso de pessoas com necessidades complexas de comunicação, por exemplo”, explica Natálie Iani Goldoni*, fonoaudióloga clínica nas áreas da comunicação suplementar e/ou alternativa e disfagia com ênfase em Cuidados Paliativos (ANCP). 

Além disso, de acordo com ela, a importância de se utilizar a Comunicação Suplementar  e Alternativa (CSA) ou Comunicação Aumentativa e Alternativa (CAA)** em casos de home care é uma especificidade que deveria, cada vez mais, ser um conhecimento intrínseco a todos os profissionais que atuam com esse tipo de serviço. “Normalmente, o paciente que necessita do atendimento home care possui uma vulnerabilidade que pode comprometer a sua capacidade de comunicação, o que exige um preparo da equipe em permitir que esse paciente possa comunicar e expressar de alguma forma desconfortos (dores), angústias, sentimentos (medos, tristezas), necessidades (ir ao banheiro, fome), entre outros. Dessa forma, o tratamento tende a ser mais assertivo e, com isso, os ganhos, tanto para o paciente em termos de qualidade de vida, como para a empresa, em termos de custos do home care, são melhores”, analisa Natálie.

A especialista enfatiza que no caso dos pacientes que já fazem uso da CAA/CSA, como as pessoas com necessidades complexas de comunicação, portadores de AME (Amiotrofia Muscular Espinhal) ou ELA (Esclerose Lateral Amiotrófica), a importância de cada equipe do home care anotar com detalhes no prontuário os detalhes sobre a comunicação alternativa quanto aos avanços e dificuldades do processo de acesso ao paciente pelo recurso de comunicação é fundamental após cada intervenção. Podemos observar a reação do paciente, por meio das sugestões abaixo:

·  Como foi o desempenho da comunicação do paciente durante a intervenção da equipe de enfermagem? Ele estava confortável ou se mostrou ansioso e agitado durante a comunicação?

·  Como foi a reação do paciente com a comunicação após a intervenção do médico ?

·  Como foi o desempenho do paciente com a comunicação após a intervenção da fonoaudióloga? Dicas e orientações? Mudanças nas necessidades comunicativas? Aumento dos elementos gráficos ou símbolos de comunicação?

“Todos esses aspectos precisam ser entendidos pela equipe, contribuindo com a atuação do terapeuta ocupacional e fonoaudiólogo envolvidos na implementação da CAA, mas também de modo que todos os profissionais, juntos, consigam elaborar um plano colaborativo e de ação eficaz em relação aos aspectos da comunicação da pessoa com necessidades complexas de comunicação”, explica a especialista. 

“Além disso, os profissionais atuantes em home care precisam trabalhar o acolhimento à família do paciente, porque toda a rotina da casa é alterada de uma hora para outra. Então é preciso que toda a equipe esteja empenhada e colabore para que a comunicação – alinhada – tenha como foco a melhora da saúde do paciente e, dessa forma, essa família seja tranquilizada e empoderada em relação à comunicação usada com o paciente, bem como, que haja treinamento dessa comunicação aos cuidadores e familiares, pois essa família passa a viver em função da pessoa enferma e merece ser acolhida e cuidada nesse processo de implementação e mudanças da comunicação”, ressalta Natálie.

Capacitação dos profissionais

Segundo a fonoaudióloga, para os profissionais que trabalham em home care é imprescindível o conhecimento da CAA. “Hoje há diversas iniciativas de instituições engajadas na disseminação do conhecimento e o ideal é que os profissionais – sejam terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos e demais profissionais da saúde especialistas com comunicação suplementar e alternativa – busquem cursos de aprimoramento e/ou extensão para capacitação em comunicação alternativa”, explica a especialista. “E o importante é que os profissionais busquem o conhecimento não apenas como meta para o incremento do currículo profissional, mas principalmente com o objetivo de oferecer aos seus pacientes sempre um meio de receber e expressar informações, que é a principal função da CAA, proporcionando, assim, uma nova vida com mais autonomia”, destaca.

De acordo com ela, uma dica é iniciar com os recursos de baixa tecnologia, que são as pranchas de comunicação feitas com imagens ou escrita, e que podem ser montadas no computador e impressas.

Depois de familiarizados com estes recursos, os profissionais devem buscar conhecer os de alta tecnologia, que são as pranchas elaboradas por meio de softwares específicos utilizados em tablets e computadores. Muitas vezes são utilizados juntamente com rastreadores oculares, por exemplo, no caso de pessoas que só têm os movimentos dos olhos para se comunicarem.

“Há muitos casos de pacientes que já possuem os recursos de alta tecnologia em casa, mas quando a equipe do home care vai atendê-los, os profissionais não sabem utilizá-los. Há então uma frustração porque a comunicação não acontece e também não há um mínimo esforço por parte dos profissionais em aprender a utilizar tais recursos. Em alguns casos, há profissionais que até se recusam a aprender a CAA/CSA. Ou seja: de um lado temos um recurso de alta tecnologia, eficiente na comunicação alternativa do paciente, porém, por outro, temos o profissional desinteressado em se atualizar sobre o quanto os novos recursos disponíveis melhoram a qualidade de vida do paciente e o impacto positivo em seu quadro evolutivo”, lamenta Natálie. 

A fonoaudióloga ministra cursos sobre CAA/CSA a pacientes com vulnerabilidade comunicativa em diversos ambientes: home care, hospitalar, domiciliar, além de ser especialista em cuidados paliativos. Para mais informações:

https://serfonoeducacao.lojavirtualnuvem.com.br/

Natálie Iani Goldoni

*Natálie Iani Goldoni é Fonoaudióloga Crefono 4, com Mestrado com ênfase na Área da Comunicação Alternativa, é pesquisadora coordenadora e colaboradora em projetos de extensão Proext/Pibex. Tem especialização pelo Instituto Pallium Latinoamérica, é membro da ISAAC Brasil e Secretária e Membro Ativo do Comitê de Fonoaudiologia na Diretoria Nacional da Agência Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP).

**Nota: Há variações em relação à Comunicação Alternativa. Em algumas regiões, pesquisadores e profissionais utilizam CAA (Comunicação Alternativa e Ampliada), em outras, o termo mais usado é CSA (Comunicação Suplementar Alternativa). Por isso, consideramos todas as variações corretas.

Redação Civiam

Entrevistas, histórias reais e conteúdo sobre diversos aspectos ligados às Tecnologias Assistivas e à educação na saúde.

Artigos recentes