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Dia Mundial da Terapia Ocupacional

Mais que reabilitar: transformar realidades é o propósito da Terapia Ocupacional

Foto de uma terapeuta ocupacional ajudando seu paciente a andar. Ao fundo vemos sua cadeira de rodas

O Dia Mundial da Terapia Ocupacional (TO), celebrado no dia 27 de outubro, é uma data para reconhecer e valorizar a profissão que é essencial na promoção da autonomia, inclusão e qualidade de vida nas atividades rotineiras de pessoas com alguma condição desafiadora, seja temporária ou permanente, decorrente de deficiência física, cognitiva, sensorial ou emocional. 

Mais do que reabilitar, a TO transforma realidades: adapta ambientes, desenvolve estratégias e utiliza recursos de tecnologia assistiva para que cada pessoa possa exercer seu papel na sociedade de forma plena e significativa – a Terapia Ocupacional é sobre reinventar possibilidades, reconstruir caminhos e devolver sentido à vida a quem perdeu a esperança por conta das limitações.

À frente do instituto que leva seu nome, a terapeuta ocupacional Erika Teixeira, inspira ao revelar, em cada trajetória, a força transformadora da Terapeuta Ocupacional na vida de quem busca autonomia e sentido. Um dos seus atendimentos emocionantes é do atleta tetraplégico Renato Petkevicius: “Ele foi um dos meus primeiros pacientes com lesão medular, em 1999, quando eu estava iniciando minha carreira como Terapeuta Ocupacional na AACD, onde tinha acabado de ingressar. Renato permaneceu cerca de um mês em terapia na instituição, mas depois optou por continuar sua reabilitação em outro centro. Ficamos muitos anos sem contato, mas, por coincidência, nos reencontramos anos depois, por meio de amigos e em feiras de reabilitação. Eu havia acabado de retornar dos Estados Unidos, onde havia feito um curso de Seating (posicionamento sentado), e percebi que a postura dele na cadeira estava inadequada, dificultando suas atividades diárias”, relembra Erika.

Foto de Renato em sua cadeira de rodas

A partir desse momento, a Terapeuta Ocupacional iniciou um projeto para repensar sua cadeira de rodas e, segundo ela, a cada etapa novos desafios surgiam. “No início, as dificuldades vinham do próprio nível da lesão. O trabalho envolveu fortalecer componentes motores, coordenação e agilidade — mas, acima de tudo, pensar na estabilidade postural como base para qualquer ganho funcional. O equilíbrio de tronco limitado exigia ajustes personalizados no sentar, considerando diversos pontos de apoio para proporcionar estabilidade e liberar as mãos para a função. Esse foi o diferencial do processo: a partir do posicionamento adequado, as demais funcionalidades tornaram-se possíveis, com o uso de adaptações para alimentação, digitação e higiene — todas pensadas com funcionalidade e estética”

Erika ressalta que trabalhar a autonomia em se alimentar e realizar a higiene bucal sozinho, encontrando a melhor forma e o adaptador mais confortável, foi um dos passos mais relevantes para o jovem, já que todas essas atividades diárias eram feitas totalmente com a ajuda do cuidador. “Vitórias essas que as pessoas não imaginam o valor que têm para quem as realizava tudo com dependência de outra pessoa”, salienta a TO, que complementa: “Como Renato também tem uma vida pessoal e profissional ativa, precisávamos olhar o todo para que ele alcançasse seu melhor desempenho. E, após conquistarmos um bom posicionamento sentado, Renato veio com uma nova ideia: pedalar. Ele me perguntou se teria condições para isso. Respondi que no Brasil ainda não tínhamos tecnologia específica, mas buscamos referências internacionais, soluções e equipamentos que possibilitaram a sua evolução. Em constante diálogo com ele, adaptamos uma handbike que ele controla com o queixo, ajustando também a posição do tronco para garantir estabilidade e equilíbrio. Trabalhamos a movimentação dos membros superiores considerando os gestos esportivos, especialmente após ele ter fraturado o cotovelo. Esse processo marcou um novo ciclo de reabilitação e preparação. Hoje ele participa de provas esportivas, superando limites diariamente ao lado de amigos”, emociona-se Erika.

Confira o depoimento emocionante do Renato no Instagram do Instituto Erika Teixeira: https://bit.ly/depoimento-renato

Um novo começo após o trauma: o poder transformador da Terapia Ocupacional

Outro atendimento que Erika compartilha é de Pedro Janot, um executivo que estava no auge de sua carreira em uma companhia aérea, quando, em 2011, em um momento de lazer no campo, uma queda de um cavalo o deixou tetraplégico. “A terapeuta ocupacional Erika teve uma importância excepcional na minha vida. Durante esses 13 anos desde o acidente que me deixou com uma lesão medular entre as vértebras C13 e C14, especialmente nos primeiros oito anos, ela foi presença constante. Quando voltei do hospital, estava em uma condição extremamente desafiadora: com os ombros e os braços luxados, praticamente sem mobilidade. E a Erika se desdobrava – literalmente! – para me reabilitar – algo que nunca tinha visto em nenhum profissional da saúde. Ela se apoiava, me movimentava com força, técnica e, sobretudo, com palavras de esperança, como ‘Você vai se recuperar!’. Por isso, além do físico, ela cuidou do que talvez fosse o mais difícil: o emocional. Antes do acidente, eu era CEO de uma companhia aérea, vivia o auge da minha carreira, com uma trajetória promissora. De repente, tudo isso foi interrompido. E foi a Erika quem me ajudou a ressignificar a minha vida: durante as sessões, ela desempenhava a função não apenas de uma terapeuta ocupacional, mas também de psicóloga e de uma grande amiga. Sua dedicação era impressionante. Ela conversava com médicos, acupunturistas e outros especialistas, participava de juntas médicas, opinava, estudava, buscava soluções e agregava tecnologias assistivas que até hoje me servem de forma exemplar. Posso afirmar que nunca conheci alguém com tamanha entrega. A Erika foi, para mim, uma doutora em Terapia Ocupacional, em psicoterapia e em humanidade. Por isso, posso dizer que, nesse contexto do acidente, que me tirou a vida que eu amava, ela foi uma bênção em um momento tão desafiador”, enfatiza Janot.

Hoje, o executivo recuperou parte dos movimentos dos braços e das mãos, comanda seus aparelhos com uma das mãos, dá palestras, tem diversos livros publicados e atua como mentor de empresas e conselheiro estratégico de grupos que faturam entre R$ 30 milhões e R$ 300 milhões. Confira: https://pedrojanot.com.br/projetos/livros/

Foto de Pedro Janot em um palco sorrindo dando uma palestra

A importância da Terapia Ocupacional

Apesar de tantas transformações no cotidiano de quem precisa, Erika salienta que a Terapia Ocupacional ainda é uma profissão pouco conhecida e, muitas vezes, subvalorizada. “No entanto, seu impacto é profundo — ela transforma rotinas, amplia a autonomia e devolve às pessoas a possibilidade de viverem com significado e propósito”, destaca. Além disso, ela revela o “segredo” dos seus atendimentos: “O diferencial do meu trabalho é compreender as tecnologias assistivas que podem favorecer a autonomia e a participação da pessoa em sua própria vida, enxergando o contexto e, a partir dele, construir uma relação entre indivíduo, atividade e tecnologia — o tripé essencial para o sucesso do processo terapêutico. Reabilitar é uma jornada em constante construção, voltada às mudanças necessárias para cada sujeito, que é único. Por isso, em suma, a Terapia Ocupacional é sobre reconstruir caminhos, reinventar possibilidades e devolver sentido à vida através da ocupação”.

Para o Dia Mundial da Terapia Ocupacional, Erika Teixeira deixa a seguinte mensagem: “A Terapia Ocupacional promove saúde e bem-estar, apoiando a participação em ocupações significativas que as pessoas desejam, precisam ou esperam realizar.” (WFOT, 2025).

https://www.instagram.com/ietreabilitacao

Informações Instituto Erika Teixeira

Redação Civiam

Entrevistas, histórias reais e conteúdo sobre diversos aspectos ligados às Tecnologias Assistivas e à educação na saúde.

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