O papel dos simuladores na prevenção de erros

Hoje é o Dia Mundial da Segurança do Paciente, um momento de reflexão global sobre a importância de tornar o cuidado em saúde cada vez mais seguro, humano e eficaz. A data reforça ainda que a segurança não se limita ao atendimento em si: ela começa muito antes, na formação dos profissionais de saúde, no preparo das equipes e na criação de uma cultura que priorize a prevenção de erros. Pois, o treinamento clínico tradicional sempre esbarrou em uma limitação: a dependência de casos reais para o aprendizado. Isso significa que nem todos os estudantes têm acesso à mesma diversidade de situações, e, muitas vezes, o primeiro contato com cenários críticos acontece já diante de um paciente real.
De acordo com dados da McKinsey, 2020, estima-se que erros médicos sejam responsáveis por aproximadamente 250 mil mortes por ano somente nos Estados Unidos. Além disso, um estudo teórico denominado “Cenário em simulação realística em saúde: o que é relevante para a sua elaboração?” e publicado na Revista de Enfermagem da USP, diz: “A segurança do paciente é um desafio global das organizações de saúde e de saúde pública mundial. O relatório “To err is human” apresentou dados alarmantes em relação ao número de mortes, em torno de 48.000 – 98.000 mortes por ano. Atualmente, estima-se mais de 400.000 mortes por erros na área da saúde, a despeito das medidas e políticas instituídas mundialmente(3). Errar é humano, porém mitigar e prevenir as causas que provocam as falhas é responsabilidade de todas as instâncias envolvidas no processo de saúde e doença da população. Com o objetivo de melhorar esses resultados, a simulação realística em saúde para a formação e treinamento dos profissionais da área tem crescido como uma das estratégias para o desenvolvimento de habilidades técnicas e não técnicas. (…) Consciência situacional, tomada de decisão, comunicação, trabalho em equipe, liderança, gerenciamento de conflito e fadiga são habilidades essenciais para as atividades que envolvem alto risco, como os serviços de saúde”.
Outra pesquisa, intitulada “Simuladores para Treinamento de Prevenção de Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde” e publicada na Revista Brasileira de Educação Médica, em 2015, salienta: “As Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (Iras), principalmente as adquiridas no ambiente hospitalar, são consideradas, mundialmente, um problema de saúde pública e estão entre as principais causas de mortalidade, aumento no tempo de internações, elevação dos custos hospitalares e desconforto vivenciado pelo paciente e sua família, com estimativas de cerca de 1,7 milhão de casos por ano em 2002 nos Estados Unidos. As Iras podem também ser relacionadas com procedimentos realizados em ambulatórios, consultórios e outras unidades de atendimento à saúde. Entre os tipos mais comuns, destacam-se as infecções relacionadas a cateteres intravasculares, pneumonias relacionadas a dispositivos inalatórios e ventilação mecânica, infecções do trato urinário (ITUs) associadas ao uso de cateteres vesicais e cuidados com ostomias. Dados do Estado de São Paulo de 2008 indicam, por exemplo, uma média da incidência de pneumonia associada à ventilação mecânica de 16,25 casos por mil dias de uso de ventilador em UTI de adultos. (…) Dentre as estratégias empregadas no treinamento de equipes, o uso de simuladores na educação vem se destacando nos últimos anos. Em várias áreas do conhecimento, já é possível verificar bons resultados com sua utilização, pois esse método de ensino serve de meio motivacional, organizador prévio e facilitador de entendimento, muito mais significativamente do que as representações que se busca fazer no quadro-negro. Segundo revisão de literatura realizada por Lynagh, mais de 70% dos estudos mostraram que o treino com simuladores aumentou as habilidades e o desempenho nos procedimentos médicos, em comparação aos estudos em que não houve o treinamento.
No ambiente protegido da simulação, o estudante tem a oportunidade de reconhecer as lacunas de seu conhecimento, desenvolver novas fundamentações cognitivas e aprimorar suas capacidades de intervenção. Além disso, pode experimentar novos conceitos e ideias que estariam além das possibilidades de se testar na prática; e verificar o funcionamento de algum sistema real em um ambiente similar, virtual ou não, considerando a variabilidade do sistema e demonstrando o que acontecerá na realidade de forma dinâmica, como é o caso do uso de simuladores para ensino de técnicas cirúrgicas de videolaparoscopia. Isto auxilia na prevenção de futuros problemas ou perdas, possibilitando a interferência dos instrutores com maior agilidade e dinamismo, o que permite trabalhar tópicos críticos com mais facilidade”.
Dessa forma, a pesquisa traz resultados surpreendentes: “Participaram dos treinamentos 61 alunos do módulo I, 52 do módulo II, 49 do módulo III, 47 do módulo IV e 46 do módulo V. No total, participaram 62 alunos diferentes, sendo 18 (29%) graduandos de Medicina, 37 (59,7%) graduandos de Enfermagem, 4 (6,5%) graduandos de Biomedicina, 1 (1,6%) graduanda de Medicina Veterinária. Dois (3,2%) eram profissionais formados em Enfermagem. Quanto à instituição de origem, 50 (80,6%) eram oriundos da UFF e 12 (19,4%) de outras instituições de ensino superior (todas particulares). Os percentuais de acertos para o pré-teste nos módulos de I a V foram 55,3%, 50,8%, 51,1%, 66,5% e 53%, respectivamente. Após a realização do pós-teste, verificamos os seguintes percentuais de acertos para os mesmos módulos: 89,6%, 84,8%, 90,9%, 93,7% e 93,1%, respectivamente”.
Assim, é notório que o treinamento em simuladores — físicos ou virtuais — impactam diretamente na segurança do paciente ao permitirem que estudantes e profissionais pratiquem inúmeras vezes, em cenários realistas, mas sem risco para o paciente e também ao praticante. Além disso, estudos mostram que os Pacientes Virtuais, como o Body Interact, aumentam o engajamento dos alunos, fortalecem o raciocínio clínico e permitem experiências personalizadas de aprendizagem.
Além de habilidades técnicas, a simulação promove também o desenvolvimento de competências essenciais à prática clínica:
- Trabalho em equipe: simulações exigem coordenação entre áreas e comunicação clara.
- Resiliência e pensamento crítico: o ambiente seguro permite errar, refletir e ajustar.
- Tomada de decisão sob pressão: situações de alta complexidade podem ser repetidas até que se alcancem respostas mais assertivas.
- Segurança psicológica: a confiança para questionar, expor ideias e reconhecer erros sem medo de punição ou humilhação. Pesquisas de Edmondson (1999) mostram que ambientes que promovem segurança psicológica estimulam a aprendizagem e a melhoria contínua, especialmente em contextos de alta pressão. A simulação cria esse espaço protegido, em que o erro é visto como parte do processo de aprendizagem. O feedback imediato, aliado à possibilidade de repetir cenários diversas vezes, transforma a experiência em uma ferramenta poderosa de prevenção de falhas futuras. E, dessa forma, os profissionais chegam ao mercado de trabalho mais seguros e tranquilos para os atendimentos reais.
Por isso, no Dia Mundial da Segurança do Paciente, é essencial destacar a simulação como um recurso pedagógico indispensável, que se consolida na formação de profissionais mais preparados e capacitados para salvar vidas.
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