Conscientizando crianças para um mundo mais inclusivo

Como forma de trazer mais conscientização e gerar empatia às pessoas que não convivem com a neurodiversidade, é que Priscila Oyafuso decidiu escrever o livro “Um Amigo Diferente”. Ela é mãe de Benjamin, 5 anos, que tem a Síndrome de Angelman, uma condição neurogenética rara que possui como características a deficiência intelectual, atraso no desenvolvimento, problemas de fala e dificuldade para andar e manter o equilíbrio (ataxia). Por ser difícil de ser diagnosticada, o livro também traz informações sobre a síndrome para que mais pessoas sejam conscientizadas sobre esta condição genética, ainda pouco conhecida pela sociedade.
“A ideia de escrever o livro surgiu como um desabafo em mais um dia de terapias e evoluiu para tentar passar uma mensagem para as famílias de crianças neurotípicas. Mostrar nossa realidade de maneira leve, mas ao mesmo tempo que as façam parar e pensar sobre como a infância de uma criança neurodivergente é complexa, uma vez que precisam dividir seu tempo de maneira desproporcional, entre o livre brincar e o ir às terapias. E, ainda assim, não conseguir um amigo para socializar e não se encaixar são questões muito desafiadoras à infância dessas crianças com deficiência”, explica Priscila.
Ela conta ainda que o livro é resultado das memórias das situações vividas pela família e, principalmente, pelo Ben, e que são comuns em famílias com crianças atípicas: “Já o vi sendo excluído de uma festinha de aniversário, pois a família que não nos convidou colocou fotos nas redes sociais e pudemos ver as demais crianças com quem ele tem contato, participando, menos ele. Foi muito triste ficar sabendo disso. Por que ele havia sido excluído assim tão pequeno? Imagina quando crescesse! Seguimos em frente e surgiu a oportunidade de irmos em outra festinha infantil, e vi a dificuldade dele em ser visto ou conseguir que algum amigo parasse para brincar. Ele chamava com a mão, mas as crianças ignoravam ou nem o enxergavam. Então uma das meninas o chamou para brincar e isso me deixou muito feliz, alguém estava dando atenção de forma espontânea e natural. Pensei em uma frase que ouvi há algum tempo: basta uma criança neurotípica disposta a ajudar, a caminhar junto, que fará toda a diferença na vida dessa criança com deficiência”, relembra emocionada.
Priscila cita também outra situação que a fez observar o quanto a inclusão ainda está longe de acontecer: “Em um outro momento, juntamente com recreadores e coleguinhas da escola, percebi que as brincadeiras propostas não eram nada inclusivas. Os recreadores não esperavam o Ben para participar das brincadeiras, como o caça ao tesouro, por exemplo, precisávamos sempre correr para tentar acompanhá-los e quando finalmente desistimos de fazer, ao acharem o tesouro, não o chamaram para participar deste momento. O mesmo estava acontecendo com uma garotinha com TEA. Ela e Benjamin ficaram brincando isolados, enquanto as outras crianças permaneceram todas juntas participando das brincadeiras. Além disso, nesse mesmo evento ouvi o pai de um coleguinha perguntando para uma das meninas se ela havia gostado de ter ido brincar com o filho na casa deles. E se ela não gostaria de visitá-los novamente. Percebi que o Benjamin talvez nunca receba um convite assim”, salienta.
Ela explica ainda que, por ter uma filha típica mais velha, Alice, as diferenças de comportamento das pessoas com o Ben ficam ainda mais evidentes: “Vivi toda essa fase de socialização com a Alice e foi de maneira totalmente diferente. O Ben adora socializar, sempre cumprimenta dando um ‘oi’ com a mãozinha quando passa alguma criança. Mas, na grande maioria das vezes, elas olham para ele com estranheza”, diz Priscila, que complementa: “Me vieram também lembranças de relatos de outras famílias. Histórias de mães que passaram por situações dolorosas com seus filhos em relação à socialização com as crianças, e tudo isso me fez e faz pensar como o mundo não acolhe nossos filhos, como é difícil para eles e para nós, familiares, também. Então acredito que, apesar do assunto sobre a importância da inclusão já ser tratado há bastante tempo, é preciso continuar divulgando e, principalmente, conscientizando. Não podemos desistir de tentar mudar a visão do mundo de que as pessoas com deficiência não se encaixam ou não têm espaço na sociedade. Pelo contrário, precisamos mostrar que as nossas crianças têm o direito de ocupar os espaços que quiserem ocupar e, mais do que isso, que merecem ser respeitadas e incluídas. Precisamos dar voz a quem, muitas vezes, não consegue falar por si próprio”, destaca.
Priscila salienta que a produção do livro “Um Amigo Diferente” foi de forma simples: registrou o ISBN da obra e a impressão é feita em parceria com a gráfica de uma vizinha. “O objetivo não é lucrar, por isso, o valor cobrado é o de custo de R$42,00 (frete incluso). Os interessados em adquiri-lo podem me mandar mensagem pelo Instagram @ben.u.can e eu peço a impressão do livro para fazer o envio”. Ela destaca ainda: “Um futuro com equidade começa com as sementinhas que vamos plantando com as crianças de hoje. É preciso ensinar sobre as diferenças, que cada um é único e que todos têm o direito de pertencer. Por isso, seria interessante se as escolas pudessem utilizá-lo em sala de aula para educar as crianças neurotípicas desde cedo. E o meu maior sonho com o livro é poder conscientizar o máximo de pessoas possíveis e, assim, ajudar a transformar o mundo em um lugar melhor para todos!”, ressalta Priscila Oyafuso.