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Projeto Skate Anima

Iniciativa transformadora nasceu de um pedido em uma sessão de fisioterapia

Foto de uma garotinha se divertindo ao andar em um skate adaptado com a ajuda de uma profissional

“Stevan, você pode trazer o teu skate para eu experimentar na próxima sessão?”. Essa foi a pergunta feita por Naiumy dos Reis, em 2015, durante uma sessão de fisioterapia, e fez com que Stevan Pinto, fisioterapeuta neurofuncional, buscasse uma forma de criar um skate adaptado. A jovem tem paralisia cerebral e, na época, estava com 12 anos, na transição da infância para a adolescência. “Percebi que ela não queria andar de skate sentada, ela queria andar em pé, como a maioria da galera anda. Foi um desafio gigante para mim, mas eu não podia deixar de atender ao desejo da Nai. Adaptei o treinador de marcha que a gente usava em terapia para ela poder experimentar a prática do skate. Fomos para a rampa de acesso da instituição e quando o skate pegou velocidade, ela abriu um sorrisão!”, relembra Stevan Pinto, que tem especializações em Treinamento Locomotor e PediaSuit; é proprietário do Studio Neuro e skatista.

Foto de Nayumi em sua cadeira de rodas com a camiseta do SkateAnima em uma sala de fisioterapia ao lado de Stevan e sua mãe

Foi a Naiumy, diante da satisfação particular, que me deu a certeza que a experiência poderia ser transformada em uma potente ferramenta de inclusão. Assim, comecei o projeto Skate Anima em 2015 e o primeiro evento que realizamos foi no Ginásio Militão, em Bagé (RS). Quebramos o silêncio do local com muita gritaria de felicidade da garotada, e, juntamente com um tablet de Comunicação Aumentativa e Alternativa (CAA), as crianças e os adolescentes ganharam voz. Mais do que um momento de diversão em quadra, notamos que a experiência ficou vigorosamente marcada na alma de cada um e esse é o objetivo principal do projeto”, destaca.

Segundo ele, o projeto começou também a ganhar visibilidade e, assim, passou a ser convidado para organizar eventos em locais públicos nada previsíveis: “Em 2018, organizamos uma pista de skate no ParkShopping Canoas, fato que considero um grande avanço, pois, quando eu era adolescente, não podíamos entrar em shoppings com o skate à mostra, tínhamos que escondê-lo em sacos pelo fato de não serem permitidos nesses locais. Além disso, a oportunidade fez com que as crianças com deficiência, que ficavam em casa ‘pijameando’, pudessem ter a experiência do convívio social com o skate e, ainda, dentro de um shopping!”, relembra orgulhoso.

Além disso, Stevan cita outro evento em que o Skate Anima participou, marcando a história do projeto e, principalmente, a vida dos participantes: “Em 2020, pouco antes da pandemia, fomos convidados a participar do Sandro Dias Camp – um skatista brasileiro, campeão mundial, que todo ano promove um acampamento para 80 adolescentes fãs de skate, a partir dos 7 anos. E, pela primeira vez, o evento recebeu PcDs com a nossa participação, pois levamos dois jovens com deficiência: a Naiumy e o Renan, na época, com 17 e 18 anos, respectivamente. Além do skate, eles puderam praticar um monte de atividade legal, como boia cross, banho de piscina, descida na lama. Promovemos ainda a inclusão reversa: criamos atividades para que os novos amigos da Nai e do Renan  pudessem andar de skate adaptado para sentirem como eles andam. E o principal e que nos marcou é que eles puderam dormir fora de casa por quatro dias e ficar longe da família pela primeira vez na vida, no auge da adolescência”, enfatiza Stevan, que conta ainda que a Naiumy já foi capa de revista de skate feminino, ao exemplificar as transformações que o esporte proporciona na vida dos jovens.

Foto de um garotinho andando em um skate adaptado  com a ajuda de dois profissionais
Foto de uma garotinha se divertindo em um skate adaptado

E o projeto foi dando tão certo e ganhando tantos adeptos e parceiros, que, além do Rio Grande do Sul, São Paulo passou a receber o Skate Anima em 2019, no Museu do Ipiranga, no Parque da Independência. “A atividade é 100% gratuita para os participantes com deficiência. Algumas instituições ou patrocinadores nos contratam para levarmos a vivência do skate adaptado a eventos e, então, há inscrição prévia. Mas sempre determinamos que os PcDs não tenham custo algum”, salienta o fundador. 

Foto do grupo SkateAnima posando em frente ao museu do Ipiranga


Nestes dez anos de Skate Anima, mais de 3500 crianças e adolescentes com deficiência puderam vivenciar a prática do skate adaptado. Hoje, o projeto conta com uma equipe de oito profissionais da saúde e Stevan destaca o sonho de ultrapassar as barreiras nacionais: “O skate é fator potente de transformação pessoal para todas as deficiências ao tocar a alma de quem o pratica. Por isso, o meu objetivo para o Skate Anima para os próximos anos é continuar contaminando a todos com vírus da inclusão através do skate e, quem sabe, até alçando vôos internacionais”, ressalta.

Foto de um garoto se divertindo andando de skate adaptado com a ajuda de outro skatista
Foto de uma garotinha se divertindo em um skate adaptado com a ajuda de uma jovem.

Mais informações:

https://www.instagram.com/skate_anima

Porto Alegre (RS): (51) 98123-7035São Paulo (SP): (11) 94227-3582

Redação Civiam

Entrevistas, histórias reais e conteúdo sobre diversos aspectos ligados às Tecnologias Assistivas e à educação na saúde.

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