Conheça Julia Magalhães, que tem uma doença rara e trabalha como Analista de Riscos Júnior por meio do controle ocular

Foto: arquivo pessoal
No Dia Mundial do Trabalho, celebrado hoje, 1º de Maio, compartilhamos a jornada profissional de Julia Guida Nogueira Magalhães, de 26 anos, que, há um ano e meio, trabalha como Analista de Riscos Júnior na instituição financeira Itaú Unibanco, uma das maiores do país. Ela é exemplo de que, quando há recursos de tecnologia assistiva adequados e oportunidade, é possível a inclusão no mercado de trabalho acontecer: ela tem CMT4 (Charcot-Marie-Tooth), uma doença rara que compromete a parte neuromuscular, além de ser deficiente auditiva.
Julia é formada em Análise e Desenvolvimento de Sistemas (curso que ingressou em 2015 ao passar em 2º lugar no vestibular da Fatec Cruzeiro). “Durante a faculdade, eu passei por um processo seletivo para fazer estágio em uma empresa multinacional. Não deu certo, mas em agosto de 2017 acabei ganhando uma bolsa de iniciação científica do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), com duração de um ano, que também valeu como estágio. Logo após a colação de grau, em 2018, eu passei por uma entrevista para trabalhar em outra empresa e estava me preparando para fazer mestrado, porém minha trajetória profissional foi interrompida naquele momento por problemas sérios de saúde”, conta.

Foto: arquivo pessoal
Em março de 2021, recuperada, Julia começou a buscar oportunidades de emprego no LinkedIn, quando uma colega de faculdade a avisou sobre um Programa de Formação Tech, da instituição financeira onde trabalha atualmente, para pessoas com deficiência que desejam atuar na área de tecnologia. No decorrer do processo, a Formação seleciona talentos que se destacam para trabalharem diretamente na própria instituição. “Não fui selecionada, mas enquanto eu estava participando desse programa, um recrutador da mesma instituição entrou em contato comigo via LinkedIn dizendo que havia diversas vagas para PCDs. Combinamos de nos falar novamente logo depois que saísse o resultado da seleção. Após uma semana, avisei que eu não tinha passado no programa e ele fez algumas perguntas para ver qual era a vaga que mais combinava com meu perfil. Em seguida, passou meu contato para um gestor que estava justamente procurando alguém com um perfil semelhante ao meu. A entrevista toda foi por escrito no Whatsapp mesmo e depois que esse gestor fez a descrição do cargo e a proposta de emprego, eu nem pensei duas vezes e já aceitei”, relembra Julia. No entanto, o processo para que ela começasse a trabalhar na instituição financeira, de fato, levou em torno de quatro meses, devido ao processo burocrático da compra do mouse ocular pela empresa, uma vez que Julia utiliza o recurso de tecnologia assistiva para desempenhar sua função, atuando basicamente como analista de dados dentro da área de risco de mercado da empresa.
“Como eu já usava o mouse ocular desde o primeiro ano de faculdade, a adaptação acabou sendo tranquila. A diferença é que a versão do rastreador que eu uso no trabalho é bem mais avançada e dinâmica do que no meu computador pessoal, então tive que me familiarizar com a versão mais recente nos primeiros dias de trabalho”, explica a analista, que complementa: “Felizmente, eu consigo trabalhar por causa do sucesso da modalidade home office. Todos meus colegas me receberam de forma calorosa, sempre dispostos a me ajudar. Meu gestor e gerentes também são tão fantásticos que só tenho a agradecer mesmo por essa oportunidade incrível e espero estar retribuindo todos os dias com minha colaboração”.
Ela enfatiza ainda a importância das pessoas com deficiência solicitarem os recursos adequados para o desempenho da função para a qual foram contratadas: “Não precisam ter medo ou vergonha de exigir algum recurso de tecnologia assistiva para seus superiores, até porque vocês têm direito de trabalhar e contribuir para o crescimento da empresa de forma igualitária que seus colegas”.
De acordo com Julia, algumas empresas estão mais preparadas para contratar e incluir apenas profissionais com grau de deficiência leve: “Não deveria ser assim, já que a inclusão deve ser para todas as pessoas com qualquer tipo de deficiência. Há uma lei de cotas para inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho de acordo com a quantidade de funcionários das empresas. Porém, não adianta só cumprir o que essa legislação vigente desde 1991 determina. É de extrema importância que as empresas se preocupem em garantir autonomia e segurança dos funcionários com deficiência para que eles possam trabalhar na mesma proporção daqueles que não possuem algum tipo de deficiência. Disponibilidade de legendas e intérpretes de Libras nos vídeos, inclusão de pisos táteis, rampas e elevadores nos ambientes de trabalho, acesso fácil a aplicativos para leitura de texto ou qualquer outro tipo de tecnologia assistiva e possibilidade de acompanhantes são algumas das várias ações que as empresas devem colocar em prática, gerando assim uma verdadeira diversidade e um impacto positivo na sociedade”, salienta.
Quanto ao trabalho, Julia destaca: “A experiência de trabalhar em uma das maiores instituições financeiras do mundo tem sido um grande aprendizado enriquecedor na vida, não só profissional, mas também pessoal. Trabalhar lá é encarar uma novidade atrás da outra, saber ser flexível com cada desafio proposto pelos superiores e dividir cada conhecimento adquirido com os colegas, sempre mantendo a responsabilidade por cada entrega e a humildade de reconhecer cada erro cometido a fim de ser uma profissional cada vez melhor”.
Às pessoas com deficiência que estão em busca de oportunidades, ela orienta: “Sejam persistentes em seus objetivos e resilientes diante das adversidades! Vocês são muito mais que suas deficiências, então mostrem o quanto vocês são capazes de fazer a diferença no trabalho!”.
Confira abaixo a história de vida de Julia, no vídeo que ela fez no final de 2019 para uma palestra no Congresso Brasileiro de Comunicação Alternativa (ISAAC – Brasil):