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“Histórias de cego” aborda com humor a convivência com a deficiência visual

Rapaz com cabelos escuros, sorrindo, está vestindo uma camiseta polo azul com listras vermelhas e está segurando um microfone com uma das mãos e na outra uma bengala.
foto: arquivo pessoal

“Se o preconceito acontece por falta de conhecimento, então que nós, pessoas com deficiência, possamos disseminar a informação para que a sociedade conheça mais sobre o nosso cotidiano e possa entender que, antes da deficiência, somos pessoas como qualquer outra”, diz Marcos Lima, jornalista, ao explicar o que o motivou a criar o canal no YouTube “Histórias de cego” (https://www.youtube.com/@HistoriasdeCego), que completa neste mês seis anos e vê o mundo com outros olhos e enxerga a vida de um modo diferente, como está em sua descrição. 

Por conta de um glaucoma de nascença, Marcos perdeu a visão total aos 6 anos de idade. “Eu achei ótimo, porque era muito trabalhoso o tratamento para minimizar o avanço do glaucoma, além de diversas cirurgias que eu tive que fazer para tratá-lo”, diz. Ele explica ainda que, mesmo com a pouca visão na infância, ele tem lembranças das imagens que via, por exemplo, na televisão e das cores básicas. Porém, após se tornar cego, passou a criar o mundo a partir das sensações. 

Formado em jornalismo pela UFRJ, é um dos fundadores da Urece Esporte e Cultura. Amante de esportes, jogou futebol de cegos por alguns anos, tornando-se em 2008 o primeiro cego brasileiro a esquiar na neve. Trabalhou na Copa do mundo em 2014, nos jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016 e é autor do livro “Histórias de cego”, lançado em 2020 pela Editora Oficina Raquel (pode ser adquirido no link:   https://www.amazon.com.br/Hist%C3%B3rias-cego-Marcos-Lima/dp/6586280052)

Em paralelo ao trabalho como jornalista em diversas empresas, o YouTuber mantinha um blog, por ser a escrita uma de suas paixões. Mas, ao notar tamanho do alcance pela internet em relação à disseminação do conteúdo, é que resolveu se aventurar pelas redes sociais. E deu muito certo! Tendo o humor como característica principal, o “Histórias de cegos” tem hoje em torno de 315 mil inscritos. 

Marcos aborda temas que são curiosidades intrínsecas à grande parte das pessoas, como: “Como cegos enchem um copo d’água sem derramar?”, “Como cegos enxergam cores?”, “Como cegos identificam dinheiro?”, e até as mais polêmicas dúvidas: “Devo dizer que tenho deficiência no perfil de sites de relacionamentos?” ou “Como cegos namoram?”, “Como cegos se apaixonam?” e, assim, seus vídeos batem uma média de 55 mil visualizações cada a mais de 1 milhão, dependendo do tema. “A pessoa cega enfrenta muito preconceito, principalmente em relação aos aplicativos de relacionamentos, bem mais do que no mercado de trabalho porque, neste caso, ainda há a Lei de Cotas. Eu sugiro que descrevam logo no perfil a deficiência, mas de forma divertida. Afinal, quem não for falar com você pessoalmente por conta da deficiência, certamente seguirá o mesmo comportamento em qualquer ambiente. Dessa forma, você economiza tempo e evita o desgaste de ser julgado por alguém que você nem conhece e vai colocar a deficiência à frente de quem você é”, orienta.

Marcos ressalta ainda a importância da tecnologia assistiva na melhora da qualidade de vida das pessoas com deficiência: “Muitos cegos sentem preguiça para aprender a usar algum recurso que nos permitirá ter mais autonomia e independência, mas eu ressalto a importância de deixarmos essa preguiça de lado e nos esforçarmos na adaptação à tecnologia assistiva, porque os recursos ajudam muito a nossa rotina”, exemplifica ao citar que até pouco tempo, ele mesmo não era adepto aos smartphones por acreditar ser muito complexa sua utilização. “Hoje eu faço tudo com o celular, como as gravações dos vídeos do canal, ouço a descrição de imagens, entre outras facilidades que o smartphone me proporciona”, explica. 

E complementa: “Exatamente por isso é que as empresas desenvolvedoras de tecnologia assistiva devem prestar atenção para que os recursos não percam a simplicidade no seu uso, senão não terão funcionalidade para a gente”.

Além do canal no YouTube, o influencer, que mora no Rio de Janeiro, é palestrante e presta consultoria a empresas que precisam contratar e adaptar o trabalho a pessoas cegas. Os interessados em contratá-lo devem entrar em contato por meio de suas redes sociais:

https://www.youtube.com/@HistoriasdeCego

https://www.instagram.com/historiasdecego/

Redação Civiam

Entrevistas, histórias reais e conteúdo sobre diversos aspectos ligados às Tecnologias Assistivas e à educação na saúde.

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