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Como os professores podem ajudar na autorregulação de alunos com autismo

Foto de uma sala de aula, com um aluno de uns 6 anos, vestindo uma camisa xadrez em tons de azul, sentado em uma cadeira vermelha em frente a um desenho sobre uma mesa vermelha. Ele está com os olhos fechados e as mãos tapando os ouvidos. Ao fundo, outros 3 alunos estão sentados em outra mesa.

Abril é considerado o mês da conscientização do autismo, por conta do dia 2/4 em que é celebrado o “Dia Mundial da Conscientização do Autismo” (data estipulada pela ONU em 2008), cujo objetivo é levar informações para a população e combater a discriminação sobre os mais de 2 milhões de brasileiros com o Transtorno do Espectro Autista (TEA).

Por isso, trazemos nesta matéria um dos grandes desafios dos professores de escolas regulares sobre como lidar nos momentos em que alunos com autismo se desregulam e, por isso, passam a ter comportamentos desafiadores. “Muito importante compreender os eventos antecessores que são os causadores do estresse da criança. E, dessa forma, sempre que possível, criar estratégias antes que a criança se desorganize. Caso não seja possível prever, é importante que o professor esteja alinhado à equipe de reabilitação para saber quais são as melhores estratégias para lidar com aquele indivíduo em específico, pois para cada criança haverá uma tática mais assertiva que outra”, diz Vanessa Gouvea, fonoaudióloga especialista em atendimento a pessoas com autismo, em Psicomotricidade, Bobath Pediátrico e Baby Comunicação Alternativa, uma das sócias da Pilar Terapias Integradas.

Ela complementa: “Lembrando que cada ser é único e que, com isso, o acompanhamento dos profissionais habilitados para lidar com o caso, alinhados com escola, pais e cuidadores, ajudará a criança a se autorregular. Mais importante do que evitar uma desregulação é criar estratégias de autorregulação. Por isso, a importância de um atendimento transdisciplinar, que auxilia todos os envolvidos no atendimento a essa criança a terem uma visão ainda mais ampla do paciente. Por exemplo, muitas vezes o paciente se desregula porque não apresenta uma comunicação efetiva e não consegue dizer o que quer, o que lhe causa grande frustração. Aí entra a importância do trabalho em conjunto, com a Fonoaudiologia com comunicação alternativa; juntamente com a Psicologia. Vale destacar que esse é apenas um dos inúmeros exemplos do que pode causar a desregulação”, diz a psicóloga Natasha Bartowski, uma das sócias da Pilar Terapias Integradas.

A fonoaudióloga Vanessa salienta ainda que, em sala de aula, os professores precisam ter um olhar mais analítico do que está por trás de alguns comportamentos dos autistas que são considerados desafiadores, como quando uma criança autista bate em um colega da sala, e não considerar apenas o fato isoladamente: “Muitas vezes, a criança apresenta esses comportamentos pois não sabe chamar pra brincar ou porque não consegue comunicar algo como ‘fala mais baixo’”. A psicóloga Natasha ressalta ainda: “Muitas vezes, também por falta de orientação dos professores, a criança acaba sendo retirada da sala para não atrapalhar os demais. Porém, tal atitude do professor vai contra a direção da inclusão daquele estudante e, muitas vezes, reforça ainda mais o comportamento desafiador. Sabemos ainda que o professor sozinho pode não ser o suficiente para lidar com o aluno, por isso é necessário um Atendente Terapêutico (AT) com o objetivo de criar pontes sociais, comunicativas e pedagógicas com a criança”.

A importância da Comunicação Alternativa

Para Vanessa Gouvêa, é de suma importância que os professores das escolas regulares tenham conhecimento sobre o sistema de Comunicação Alternativa que o aluno autista utiliza: “E não só para os momentos de desregulação, mas tb para que este aluno seja ativo em sala de aula e no convívio com os amigos na escola, caracterizando, assim, um indivíduo de fato incluído, pois para que a inclusão aconteça,  é necessário que o aluno possa participar ativamente de todas as atividades da sala, ainda que necessite de adaptações, podendo assim opinar, perguntar e dizer o que deseja”.

A fonoaudióloga ressalta  que um sistema de Comunicação Alternativa sempre funciona, mas desde que esteja adequado às necessidades da criança. “Por exemplo, uma criança com Deficiência Visual Cortical pode não estar respondendo bem à comunicação, pois as figuras não estão adaptadas visualmente. É também de extrema importância que seja trabalhada a atenção dessa criança, o olhar quando solicitado para que aí possamos entrar com a comunicação alternativa, pois não adianta querer pular etapas, se temos uma criança que nem ao menos olha como ela irá olhar e prestar atenção nas figuras de comunicação? Por isso, sempre digo que o sistema de comunicação sempre funciona, só não podemos pular etapas para que o processo tenha sucesso”, diz.

Como a família pode ajudar?

Vanessa ressalta a importância da família conhecer os fatos que antecedem as crises que desregulam as crianças autistas para, assim, poder comunicar os professores para se atentarem e, se possível, evitá-las durante as aulas. Outro ponto que Vanessa considera é em relação às birras inerentes a qualquer criança. “No caso de crianças autistas, a linha é bastante tênue para que tantos pais como professores saibam perceber quando é uma birra típica de criança ou quando é uma desregulação. A minha sugestão tanto às famílias quanto aos professores é sempre observar o contexto: geralmente a birra ocorre quando a criança compreendeu a situação mas não a aceita. A desregulação, de modo geral, ocorre quando a criança não entende a situação. No caso da criança com TEA, muitas vezes, por não compreender as convenções sociais, as desregulações ocorrem com muito mais frequência”.

Natasha destaca ainda que a birra é um comportamento muito comum entre crianças entre 2 e 4 anos. “No caso do TEA é importante que tenha o acompanhamento com a equipe transdisciplinar para que possa ser discutido quais são os eventos desreguladores. É importante que se faça uma análise funcional dos comportamentos, inclusive para sabermos se está havendo um reforço daquele comportamento e podermos identificar se é birra ou se é crise. Normalmente, quando a criança se desregula, ela tem dificuldade em se regular novamente, principalmente se a família ou o professor ignorar o evento, por exemplo. Já no caso da birra, na maioria dos casos, tende a parar quando ignorada. Mas, claro, destaco que é sempre importante avaliar caso a caso”, diz a psicóloga.

Ela relata ainda que a criança se desregular em locais públicos é um dos grandes desafios dos pais em saber como lidar nesses casos. “Em algumas crianças com TEA é previsível quais situações deflagram tais comportamentos. Nesses casos, trabalhar a situação previamente através de histórias sociais é fundamental para que as crises diminuam. Porque, muitas vezes, a criança não compreende o que se espera dela numa determinada situacão”, explica Natasha.

A especialista destaca ainda a importância de considerar o usuário de Comunicação  Alternativa como qualquer outra criança em termos de expressão de suas vontades. “Mas nem tudo que ela quer pode ser acatado plenamente. Limites são muito importantes de serem dados a qualquer criança. No caso de crianças com TEA, é importante o uso de símbolos do próprio sistema de comunicação para ajudar na compreensão de que “hoje não tem”, “não pode”, “tem que esperar um pouco””, salienta.

A psicóloga orienta ainda que, quando houver possibilidade da criança escolher, por exemplo, o que ela quer levar de lanche para a escola, que os pais possam oferecer duas ou três opções de escolha. “Até porque,  ela tem o direito de escolha como todos nós. Mas, caso só exista uma opção, é importante que os pais digam à criança que no momento é a única. O mesmo vale para os professores quando vão ofertar uma atividade e a criança não aceita”.

Natasha deixa a seguinte mensagem, tanto às famílias, quanto aos professores: “Neste mês da conscientização do autismo, que as pessoas possam olhar os autistas como pessoas que também se expressam, externalizam suas emoções, tanto frustrações como alegrias, de forma muito peculiar, que pode ser melhorada e trabalhada. Aqui na Pilar Terapias Integradas, trabalhamos de forma interdisciplinar, porque as áreas conversam em si para apenas uma finalidade: a de melhorar a qualidade de vida dessa criança, amenizando seus desconfortos sensoriais e melhorando a sua relação com o mundo. E se a sociedade entender que por trás de todo comportamento desafiador pode existir falta de comunicação, pode existir reforço desse comportamento, pode existir questões emocionais e que a criança muitas vezes tem dificuldade em verbalizar o que sente, os olhares de julgamentos das pessoas que não compreendem o autismo irá cada vez mais diminuir, dando espaço para um gesto acolhedor, tanto para a mãe como para a criança. E é isso o que desejamos para que o mundo seja mais inclusivo!”, diz a especialista.

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Redação Civiam

Entrevistas, histórias reais e conteúdo sobre diversos aspectos ligados às Tecnologias Assistivas e à educação na saúde.

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