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A importância dos parceiros de comunicação e a modelagem

Foto de uma senhora morena com cabelos curtos enrolados, usando um vestido estampado e um cordão de comunicação Alternativa e segurando um livro com figuras aberto, está sorrindo olhando para uma menininha e batendo em sua mão em forma de "comemoração". A menininha morena usando óculos, cabelos presos com um laço rosa e camiseta rosa, também está sorrindo olhando para a senhora.

O mês da conscientização da Comunicação Alternativa (CA) acabou de terminar (outubro), mas não poderíamos deixar de ressaltar a importância dos parceiros de comunicação utilizando a modelagem para ensinar as pessoas com necessidades complexas de comunicação (NCC) a se comunicarem pelos seus sistemas de CA. “A modelagem, ou estimulação de linguagem auxiliada, seria o caminho para mostrar ao usuário como o seu sistema de CAA funciona e para quais funções de comunicação usar cada símbolo. Para que o desenvolvimento da linguagem aconteça, precisamos de muitas horas de exposição, pois podemos trazer o exemplo de quando falamos um idioma que não é falado por ninguém ao seu redor. E é exatamente isso o que ocorre com usuário de CAA quando ele não vê pessoas ao seu entorno utilizando o sistema de CAA para propósitos reais e de forma consistente: dificilmente o usuário se apropriará do uso dessa ferramenta. Ainda, segundo Kraat, a modelagem é um processo dinâmico entre pelo menos duas pessoas, que é altamente interativo, bidirecional e multimodal e ocorre naturalmente no contexto do dia a dia da criança”, explica a fonoaudióloga Valeria Santos*, especialista no atendimento a autistas e em modelagem.

De acordo com ela, todos nós utilizamos várias formas de comunicação, como gestos, expressões faciais, movimentos corporais, escrita, fala. “Pessoas com NCC também se comunicam usando diferentes modalidades para transmitir uma mensagem, e todas as formas de comunicação devem ser valorizadas e aceitas enquanto apoiamos a aprendizagem com o uso dos sistemas de comunicação. A modelagem será mais efetiva se o parceiro de comunicação interpretar o que a pessoa está tentando comunicar (por meio de suas ações, apontamentos, expressões faciais, entre outros) e, em seguida, confirmar a informação por meio da modelagem juntamente com o seu conjunto de CAA”, esclarece a especialista. 

Segundo Valeria, os parceiros de comunicação são fundamentais no processo de desenvolvimento da linguagem da pessoa com NCC, mas é preciso que estejam atentos para não adotarem uma linguagem diretiva, onde há apenas perguntas e comandos. “Os parceiros de comunicação, independente do vínculo com o usuário de CAA (familiares, cuidadores, terapeutas, professores), devem ser capazes de enviar e receber mensagens – ou seja, interagir – com sucesso com indivíduos que usam CAA para que experimentem interações comunicativas eficazes. E todos precisam ser capacitados para isso, pois o sucesso no uso do sistema de comunicação pelo usuário está diretamente relacionado às habilidades dos parceiros de comunicação, que muitas vezes acreditam que perguntar toda hora é uma forma de estimular a linguagem da pessoa com deficiência na fala, o que é um equívoco. De acordo com pesquisas, somente fazer perguntas não promove o progresso da comunicação e pode ter um impacto negativo no desenvolvimento da pessoa com NCC, gerando menor participação do usuário, maior demora na iniciação da comunicação e diminuição da motivação. Além disso, esse formato estimula a dependência, a apatia e aumenta a frustração”, alerta.

Para a especialista, outro equívoco que comumente acontece é o parceiro de comunicação esperar que o usuário saiba se comunicar simplesmente porque agora ele tem um sistema de CAA. “É a mesma coisa que dar um carro para a pessoa e não ensinar a dirigir”, exemplifica. Uma dica que Valeria sugere para o parceiro de comunicação avaliar como está indo a sua modelagem é filmar os momentos de interação e depois analisar a qualidade da intervenção; verificando se deu oportunidades e incentivou o usuário a usar o sistema de CAA, fazendo pausas para checar o alinhamento de expectativas com o que foi alcançado durante a interação, por exemplo.

 Em seu canal no Instagram (@fga.valeriasantos), a especialista dá diversas dicas de atividades de modelagem, utilizando vídeos, brinquedos (bolha de sabão), entre outros. “Desde a hora que acordamos até a hora de dormir temos oportunidades de modelar! Aproveitar as próprias interações naturais e rotineiras que acontecem na casa para modelar é o melhor caminho, como, no café da manhã, no almoço, jantar, assistindo um vídeo, ou brincando no balanço, por exemplo, são situações que ocorrem com frequência. Lembrando que o vocabulário para modelar pode ser previamente estabelecido e usado de forma sistemática. E o mais importante: crie situações motivadoras e divertidas para o usuário, pois comunicar não é uma tarefa ou atividade é conexão!”, orienta.

Exatamente por notar a necessidade de capacitar de forma sistemática os parceiros de comunicação ao observar as dificuldades que muitos têm para aplicar a modelagem e, juntamente com sua dedicação nos últimos dois anos a estudos de formas eficientes de capacitação, é que Valeria desenvolveu um treinamento para  desenvolver habilidades que são fundamentais para apoiar os usuários e suas famílias. O curso é voltado a parceiros de comunicação (terapeutas, familiares) e profissionais da saúde e acontece de forma on-line e ao vivo. A próxima turma será nos dias 18 e 19 de novembro. Os interessados podem deixar o contato na lista de espera por meio do link:

Foto de uma mulher com cabelos claros e longos, sorrindo, sentada no chão segurando uma prancha de comunicação alternativa

 *Valeria Santos é Fonoaudióloga, pós graduada em Transtorno do Espectro Autista especialista em Neurociências, Qualificação profissional em Uso Terapêutico de Tecnologias Assistivas: direitos das pessoas com deficiência e ampliação da comunicação, curso de core words (projet core) pelo Center for Literacy and Disability Studies, a unit in the Allied Health Sciences Department at the University of North Carolina at Chapel Hill, treinamento introdutório e avançado em LAMP (Language Acquisition Through Motor Planning).

Redação Civiam

Entrevistas, histórias reais e conteúdo sobre diversos aspectos ligados às Tecnologias Assistivas e à educação na saúde.

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